Meu primeiro contato com a teoria das cores aconteceu enquanto estudava design de interiores. Eu vinha de uma experiência de 11 anos trabalhando na Natura, em áreas muito focadas em análise, e estava buscando uma forma de dar vazão à minha criatividade. Foi nesse contexto que fui apresentada ao círculo cromático.
No início, as aulas de cor eram simplesmente maravilhosas. Lembro bem do dia em que pintamos nossos próprios círculos cromáticos com tinta. Começamos com as cores primárias e, em seguida, misturamos para criar as cores secundárias e, depois, as intermediárias. Era como um sonho.
No entanto, chegou o momento em que nos ensinaram a combinar cores usando as "harmonias" do círculo cromático. A proposta, a princípio, parecia atrativa: podíamos criar qualquer combinação de cores perfeitamente harmoniosa, somente com girar o círculo cromático e encontrar as cores que correspondiam a certas figuras geométricas. Linhas retas representavam monocromias, cores opostas eram complementares, triângulos equiláteros indicavam tríades, e assim por diante.
Minha empolgação, no entanto, durou até o dia em que tivemos que apresentar nossos projetos coloridos, usando essas "harmonias" do círculo cromático. Com uma rápida olhada nos trabalhos de todos os alunos, incluindo o meu, percebi que eram todos muito parecidos. E então, uma pergunta ecoou na minha mente e no meu coração: onde estava a criatividade? Será que isso era o melhor que podíamos fazer com as cores?
Essa experiência me marcou profundamente e serve para explicar a primeira forma de sair do óbvio nas combinações de cores.
Vamos começar!
Guarde o círculo cromático em uma gaveta: Pode parecer que estou exagerando, mas eu não estou. Tenho certeza de que o círculo cromático nunca vai te levar a criar combinações que fujam do óbvio. Simplesmente porque ele personifica o óbvio. Eu defendo que o círculo cromático é a melhor ferramenta para entender a teoria básica das cores, mas não para combinar cores. Voltando à minha história sobre o desencanto com os projetos coloridos usando as "harmonias" do círculo cromático, o motivo pelo qual todos os projetos eram muito semelhantes era que todos haviam usado as mesmas fórmulas. E você sabe, uma fórmula é previsível. Diferente de outros métodos de combinação mais subjetivos, que exigem um pouco mais da sua criatividade. E o que você realmente quer é fugir do óbvio, certo?
Veja a cor como uma habilidade que precisa ser treinada: Pode parecer simples o que vou dizer, mas eu sempre me pergunto como alguém que deseja tocar piano muito bem sabe que a única maneira de conseguir isso é treinando, se possível, todos os dias, horas a fio. Mas, se essa mesma pessoa quer ser excelente em combinar cores, dificilmente ela pensa na necessidade de treinar combinações todos os dias, como faria com o piano. Portanto, meu convite é simples e poderoso: treine suas combinações diariamente até que seu conhecimento se torne uma habilidade, e você estará a um passo de sair do óbvio em suas combinações.
Amplie seu repertório de cores para além da sua área de atuação: Que tal conhecer e analisar cores de outra perspectiva? Se você trabalha com moda, observe as cores nos filmes. Se trabalha com ambientes, olhe para cores em produtos. Se trabalha com produtos, explore as cores na arte. Se trabalha com arte, analise cores em capas de livros. Se trabalha com capas de livros, olhe para cores no artesanato. E se você trabalha com artesanato, observe as cores na moda. E assim, a roda da criatividade continua girando.
Pense nas cores fora do contexto: Uma forma de sair do óbvio é apoiar sua criatividade em um dos elementos presentes em toda combinação de cores: o contexto. É ele que nos ajuda a entender o impacto de cada combinação, fornecendo as condições para avaliar se a escolha de cores está certa ou não. Portanto, ao considerar combinações de cores em diferentes contextos, é provável que você descubra boas combinações que são diferentes e fora do comum.
Par criar paletas interessantes, seja também uma mulher criativa interessada: Esta provocação para sair do óbvio tem a ver com manter um olhar curioso. Interessar-se por novas leituras, novos filmes, novas pessoas, novas viagens, novas experiências. Estar interessada em viver o momento presente, observando o que está ao seu redor e tendo o empenho necessário para aprender.
Deixe sua intuição colorida falar alto: Seja ouvindo sua voz interior ou embarcando em um processo de autoconhecimento, olhar para dentro em busca do que fala diretamente de você é um caminho certo para criar combinações de cores únicas e fora do óbvio. Porque você – e cada uma de nós – somos únicas.
Use um processo como guia para combinar cores: Pode parecer um contrassenso sugerir o uso de um processo para sair do óbvio, mas vou me deixa explicar. Uma fórmula sempre segue uma abordagem estruturada, com um caminho claro e previsível para um resultado específico. Já um processo é mais flexível, permitindo ajustes e mudanças ao longo do caminho. Ele oferece mais liberdade para explorar possibilidades, incluindo o uso da intuição em conjunto com o conhecimento. Isso é essencial para sair do óbvio.
Espero que estas dicas sejam de ajuda no seu caminho da Jornada da Cor.
Abraço colorido, Felicitas
Foto de capa Fiona Murray-deGraaff.
