O meu primeiro círculo cromático - e que me acompanha até hoje - foi o que ganhei em 2015 quando fiz um curso online com a consultora de cores americana Kate Smith. Eu lembro da minha felicidade quando chegou o pacote pelos correios - tinha voado desde Estados Unidos até o Brasil - e na aba da pasta vi ele: grande, colorido, girava, mostrava tantas cores de ambos os lados. Precisava entender como usar ele. E isso fiz. Hoje vou te mostrar a melhor forma de usar o círculo cromático.
Eu gosto sempre de começar pelo começo :) E se tratando do círculo cromático é preciso dizer que ele é uma criação humana, uma representação gráfica das cores espectrais ou cores do arco íris. Pelo menos, essa foi a intenção do primeiro círculo cromático conhecido lá em 1704 e criado pelo físico e matemático Isaac Newton. Veja abaixo o desenho tal como ele fez já fazem mais de 300 anos! Foi Newton quem descobriu algo que hoje é considerado básico mas na época foi uma revolução: que um raio de luz solar contém nele todas as cores do arco íris. Isso tem um enorme significado porque demonstra que a cor é luz e como tal carrega também toda a energia da luz :)
Quer saber uma curiosidade? Isaac Newton desenhou este primeiro círculo cromático dando a cada cor a mesma proporção que ele via quando observava o arco íris. Assim este círculo tem uma "fatia" maior de vermelho (Red) do que de laranja (Orange) por exemplo, ou podemos ver que a "fatia" de violeta (Violet) é maior que a fatia de índigo (Indigo), por exemplo.
Hoje estamos acostumados a ver um círculo cromático deste tipo, formado por 12 cores e onde cada uma delas ocupa uma "fatia" do mesmo tamanho. E essas cores são: as três cores primárias (amarelo, vermelho e azul), as três cores secundárias (laranja, violeta e verde), seis cores terciárias ou intermediárias (amarelo alaranjado, amarelo esverdeado, azul esverdeado, azul violáceo, vermelho violáceo, vermelho alaranjado).
Quer saber outra curiosidade? A forma correta de segurar o círculo cromático é sempre com a cor amarela na parte superior (tal como está na foto acima). Quando eu li isso pela primeira vez me pareceu arbitrário mas depois usando ele vi que ajuda segurar ele sempre da mesma forma para ter sempre a mesma visão. Ajuda a depois "ver na mente" o círculo cromático mesmo quando não estamos segurando ele na mão. Se você às vezes se perde usando o círculo... esta dica será de grande ajuda. Confia em mim :)
Depois de identificar as cores primárias, cores secundárias e as cores intermediárias vale muito a pena falar de temperatura de cor. O conceito pelo qual separamos as cores em dois grupos, por um lado as cores quentes (em destaque na foto abaixo). Chamamos a estas cores que vão do amarelo até o vermelho violáceo de cores quentes pela associação que fazemos do vermelho com o fogo e portanto com o calor.
E do outro lado, as cores frias que vão do amarelo esverdeado até o azul violáceo. Chamamos a estas cores de cores frias pela associação que fazemos do azul com o gelo e portanto com o frio.
Uma das partes que eu mais gosto deste círculo cromático (não sei se outros modelos também trazem isso) são as "janelinhas" onde podemos ver as cores resultantes da mistura de cores. Vou tentar explicar e para isso peço que observem a cor amarela aqui na foto seguinte. Logo abaixo do amarelo tem uma cor azul em forma de seta e depois as palavras "Adding Blue" (Somando ou Adicionando azul - em inglês). Se vocês olham logo embaixo há uma janelinha que traz a cor verde. Isso quer dizer o que? Que se misturo amarelo com azul vou ter a cor verde.
Agora que entenderam como funcionam as janelinhas vejam que há uma janelinha para:
- Adding Red > Somando ou adicionando vermelho > ao girar essa janelinha aparecerá nela a cor resultante de misturar a cor de cima com vermelho.
- Adding Yellow > Somando ou adicionando amarelo > ao girar essa janelinha aparecerá nela a cor resultante de misturar a cor de cima com amarelo.
- Adding Blue > Somando ou adicionando azul > ao girar essa janelinha aparecerá nela a cor resultante de misturar a cor de cima com azul.
- Adding White > Somando ou adicionando branco > ao girar essa janelinha aparecerá nela a cor resultante de misturar a cor de cima com branco (cores mais claras).
- Adding Black > Somando ou adicionando preto > ao girar essa janelinha aparecerá nela a cor resultante de misturar a cor de cima com preto (cores mais escuras).
Por que gosto dessas "janelinhas"? Porque eu dou muita mais importância às tonalidades das cores do que às cores. Eu acredito que o segredo de saber usar cores é entender: 1. que as cores são resultado de misturas. 2. que há muitas (mas muitas) tonalidades entre as quais escolher do que as 12 que aparecem aqui no círculo cromático 3. que cada uma dessas novas tonalidades terá uma personalidade diferente e portanto trará algo diferente cada vez que uso uma ou outra.
Uma parte que é pouco conhecida deste círculo cromático é para que serve e como se usa a escala de cinzas que começa no preto (Value 1) e vai até o branco (Value 10) passando pelo cinza médio (Value 5) que estou assinalando na foto aqui embaixo. Essa escala é uma referência de luminosidade (value em inglês) e serve para aferir em forma visual a luminosidade de uma cor qualquer que você escolhe.
>>> Luminosidade se refere a quão clara ou escura é uma cor <<<
É algo bem teórico, tá? Na prática acho difícil usar no dia a dia. Mas deixa te mostrar como fazer. Você segura na mão a cor que deseja saber a luminosidade e coloca do lado da escala... e vai girando... até que você vê a menor interferência ou ruído entre a cor e o cinza... nesse momento você sabe qual é a luminosidade dessa cor. Deu para entender?
Por exemplo: eu fiz isso com a cor Verde Fru Fru, do catálogo de tintas da Sherwin Williams, e vejam só. Essa cor verde tem luminosidade 6 (Value 6). Uma boa forma de comprovar isso, e na verdade um bom truque para comparar a luminosidade de diferentes cores, é fazer uma foto em preto e branco, para assim ver tudo em escala de cinzas. Veja só.
Por último, ao virar o círculo cromático temos o que? O gráfico indicativo das "receitas" das harmonias do círculo cromático: complementares, complementares divididas, tríades e tétrades (o que aparece no gráfico central no verso - veja na foto embaixo). Esta parte do círculo cromático para mim se compara às rodinhas da bicicleta quando está aprendendo a andar de bicicleta. São necessárias? Sim! Fundamentais quando sobe a uma bicicleta por primeira vez porque sem elas você cai. Mas uma vez que aprendeu a pedalar e aprendeu a se equilibrar, elas não somente são prescindíveis como que a experiência de pedalar melhora muito sem as rodinhas. Se você gostava de pedalar com rodinhas, vai amar pedalar sem rodinhas. Para mim é igual com as harmonias do círculo cromático. Necessárias? Sim, no começo. Dá aquele gosto de usar cores e sair combinando. Agora... uma vez que você entendeu como funciona a cor... vai AMAR combinar cores sem usar o círculo cromático. De novo, confia em mim :)
E ainda na parte de trás, se olhamos para as cores, vemos as diferentes tonalidades de cada cor na ordem (de fora para dentro) a seguir : a cor "pura" (mais vibrante), a cor misturada com branco (mais clara), a cor misturada com cinza (mais apagada) e a cor misturada com preto (mais escura). Esta parte do círculo também é muito valiosa porque de novo... se trata de tonalidades!!! Onde a riqueza da cor reside.
Então agora que vimos todas as partes que compõem o círculo cromático vou sintetizar aqui qual é - ao meu ver - a melhor forma de usar o círculo cromático.
Em primeiro lugar o círculo cromático ajuda muito a entender a dinâmica entre as cores. A genialidade de Isaac Newton de juntar os extremos das cores do arco íris (índigo e vermelho) pela sua semelhança é uma mão na roda para que entendamos como elas se relacionam umas com as outras.
Em segundo lugar se o teu círculo traz essa visibilidade de outras tonalidades diferente das cores "puras" vale muito a pena entender isso (que todas as cores têm tonalidades mais claras, mais escuras, mais vibrantes e mais apagadas) para abrir o olhar para o infinito de tonalidades que podemos usar no nosso dia a dia.
Se você está começando no mundo das cores, vale muito a pena usar as "receitas" de harmonias do círculo cromático para pegar o gosto pelas cores. Mas saiba que tanto quanto eu recomendo usá-lo também sou a primeira a te recomendar que pare de usá-lo, e deixe ele um pouco de canto, assim você desenvolve outra sensibilidade para as cores, mais profunda e livre.
Este post tem um outro post "irmão" que escrevi um ano atrás e que vale a pena dar uma olhada. Nele eu explico quando é bom usar e quando é bom largar o círculo cromático. Leia >>> clicando aqui.
Abraço colorido!
Felicitas