Muitos dos profissionais que encontro em palestras, na Oficina da Cor e nos workshops que realizo pelo Brasil todo chegam com a seguinte inquietude: "Como convenço o meu cliente a adotar minhas recomendações de cor?" Parece como se isso fosse um capítulo aparte, um outro fantasma que deve ser desintegrado para levar adiante o exercício da sua profissão em plenitude.
E eu sei aonde nasce essa inquietude. Eu sei como é fazer todo um projeto colorido e que não brilhe o olhar do cliente no momento da apresentação. Eu sei o que se sente em montar uma proposta cromática com vários elementos que se encaixam criando um todo único, para que depois o cliente execute somente uma parte e aquela visão inicial fique incompleta.
Eu sei o sentimento de montar um projeto que depois de apresentado ao cliente vai sendo “remendado” e “costurado” aqui e ali até que o resultado final está muito distante da nossa ideia original. Mas também experimentei a sensação de extrema alegria de criar um projeto baseado em um briefing robusto, com um conceito forte que faz brilhar o olho do cliente, depois o projeto ganha forma real porque o cliente executa todas as fases inteiramente guiado por mim e uma vez finalizado o trabalho, o cliente fica muito satisfeito e feliz.
Eu acho que aprender a usar cor sem medo e convencer o cliente a adotar as recomendações de cor, são dois lados da mesma moeda. Ou seja, o profissional que se sente à vontade para usar cor sem medo nos seus projetos, certamente será mais bem sucedido em levar adiante seus projetos coloridos. Mas… sim acredito que há um processo que deve ter lugar para que isso seja realidade.
Tenho aprendido muito dos erros e dos acertos que cometi na minha carreira profissional como designer de interiores. E com o tempo desenvolvi um método que aplico toda vez que começo um novo projeto. Ter um método - ou um processo - é vantajoso porque quando as coisas não acontecem na forma esperada é possível voltar atrás e ver em qual fase teve esse desencontro. Sim, eu sei que nem tudo é tão controlável mas trabalhar com um panorama claro dos desafios e das fases que iremos passar… deixa as coisas mais simples, mesmo quando tanto nós quanto os nossos clientes somos (porque todos somos) pessoas mais ou menos imprevisíveis.
Eu vou te contar agora quais são essas fases do método - ou do processo - que me leva a ter as maiores chances de convencer o meu cliente a adotar minhas recomendações de cor. E deixa te avisar: ainda quando a minha prática profissional é em projetos de interiores acredito que este método ou processo sirva a muitas outras áreas profissionais que usam cor como elemento central na criação e desenvolvimento.
Primeiro: tudo começa com uma boa conversa com o cliente. E coloca “BOA” nisso. Ou seja, é necessário dedicar tempo de qualidade para entender o que ele espera do projeto e claro precisamos poder acessar a história de cor do cliente (suas memórias e experiências ligadas à cores). É necessário fazer as perguntas certas, ser bom ouvinte para escutar e também saber “ler entrelinhas”. É fundamental também fazer um bom registro disso tudo que será matéria prima de primeiríssima qualidade para o teu projeto.
Segundo: as ideias de cor no teu projeto devem começar a ser moldadas desde o dia 1. Nada de deixar as escolhas de cores para final. Na pesquisa de conceito, formas, linhas e materiais para o teu projeto… já começa a pensar em paletas de cores. Nesta fase inicial você pode juntar algumas opções de paletas para depois validar com o teu cliente. Sempre está a mágica dos números ímpar, certo? Portanto acredito que ter em mente 3 paletas de cores em potencial para depois validar pode ser um bom ponto de partida.
Terceiro: ao longo do desenvolvimento do projeto você irá considerar:
- Emoções e sensações que fazem parte do projeto e sua correspondência em cores. Você busca um determinado “mood” que se amarra com o conceito do teu projeto.
- Você irá avaliar diferentes tonalidades até chegar no tom certo para cada cor.
- Você sempre vai avaliar a tua proposta cromática dentro do contexto mais amplo em que se insere o projeto.
Quarto: lembra bem desta frase "projetos de cor se aprovam com cor”. Com isto quero dizer que quando você prepare a apresentação do teu projeto para o cliente faz um esforço para ter amostras reais das cores que está propondo. Eu sei que hoje fazemos muito no computador e que há programas incríveis para renderizar cores em imagens, mas com risco de ser chamada de antiga, acredito fortemente que nada se compara com a experiência de convidar o cliente a vivenciar “ao vivo” a proposta cromática que estamos propondo.
E se tuas propostas envolvem também texturas como diferencial, é fundamental que você apresente cor + textura juntas. Quando lidamos com cor estamos ativando o sentido do olhar, quando trazemos junto o sentido do tato, há um crescimento exponencial nos ganhos. Por isso é que os moodboards são ferramentas tão boas para apresentar projetos.
E ainda falando de “aprovar cor com cor” deixo aqui um alerta: toma muito cuidado em como você fala sobre as cores presentes nos teus projetos. Vou te dar um exemplo: se a cor principal no teu projeto é um vermelho rosado é importante que (além de ter uma amostra do vermelho rosado em questão) você chame a cor corretamente de vermelho rosado porque se você repete uma e outra vez digamos somente a palavra “vermelho” o cliente pode não ter um bom entendimento do que você está apresentando e ficar confuso.
Quinto: pode ser obvio dizer isto mas… você precisa transparecer confiança para o cliente. Ele precisa sentir que você sabe do que está falando (ou seja, você sabe usar cor sem medo) e ele precisa sentir que você analisou o contexto todo e que essa solução de cor é a melhor solução para ele. Com isto quero dizer que, ao longo do projeto você irá afunilar as propostas de paletas de cores para que na hora da apresentação você tenha aquela única paleta que responde ao briefing do cliente.
Quando apresentamos mais do que uma solução possível para o cliente, e pior ainda se elas são muito distintas, na minha opinião estamos transferindo a nossa insegurança para ele. Como eu não consigo decidir o que é melhor, vou deixar que ele decida. Será? Eu acho que não. Acredito que se o projeto foi bem desenvolvido nós sabemos qual é a melhor solução cromática para apresentar baseados no briefing.
Pela minha experiência, se eu levo adiante estas fases corretamente eu aumento as minhas chances de convencer o meu cliente a adotar minhas recomendações de cor. Quando acontece de o cliente duvidar das minhas propostas eu volto atrás e penso em qual fase eu poderia ter ido melhor. Será que não me dediquei a ter um briefing robusto? Será que não fiz uma boa pesquisa de conceito e portanto a minha paleta de cores não está bem “amarrada”? Será que errei na escolha das tonalidades ou na avaliação do contexto? Será que minhas amostras de cores não eram boas ou estavam incompletas? Será que me faltou uma atitude de confiança frente ao cliente e isso o deixou indeciso?
Espero que estas dicas sirvam a você tanto quanto servem para mim! 💛
Boa semana colorida!
Felicitas :)