Há no mundo das cores um temor sempre presente de que uma paleta de cores colorida (ao invés de neutra) possa deixar um ambiente, um look e mesmo um produto desalinhado ou diminuir a percepção de valor dessa pessoa, marca, local ou produto. Por conta disso, em todos estes anos que trabalho com cores há uma dúvida recorrente: é possível usar cores e ser elegante ao mesmo tempo?
É importante abordar estas dúvidas em forma ampla e ir esmiuçando o entendimento de cada afirmação para chegar a um consenso sobre estas questões que despertam tantas dúvidas.
Podemos pensar em: o que é colorido? O que é elegância? Usar cores e ser elegante são ideias que convergem ou ideias opostas?
O que é colorido?
No dicionário Michaelis online, colorido significa que se coloriu, tingido com cores e também que apresenta cores vivas, vibrantes. Ay, ay, ay.... talvez aqui esteja o início de um dos maiores mal entendidos no mundo das cores.
Desde que trabalho com cores tenho comprovado na prática que toda vez que falamos em cores, por exemplo ao dizer amarelo, vermelho ou azul, formamos na nossa cabeça uma imagem visual de cores vivas e vibrantes. Pensamos em amarelo puro, vermelho puro e azul puro. Aquela ideia que todos temos das cores nas suas versões mais limpas e puras.
E ainda que isso seja verdadeiro porque há belíssimos amarelos puros, vermelhos puros, azuis puros, laranjas puros, verdes puros e violetas puros... também é verdadeiro que há milhares de tonalidades para cada uma das cores que distam de ser puras e vibrantes.
Dessa forma usando como exemplo somente a cor azul podemos encontrar azuis vibrantes, azuis apagados, azuis claros, azuis escuros, azuis avermelhados, azuis esverdeados... ou seja, há milhares de tonalidades de azul que podem ser usadas para um visual colorido, não somente as vibrantes.
O que é elegância?
Definir o "ser elegante" ou a elegância deve ser talvez uma das coisas mais difíceis que existem. A definição clássica de elegância se refere a refinamento, requinte, sofisticação. Mas, ao meu ver o ser elegante tem a ver com ser fiel a quem você é no caso de se tratar de uma pessoa, ou ser fiel à identidade da marca no caso de um negócio ou produto.
Porque vamos combinar, dependendo da pessoa, negócio ou produto o conceito clássico de "requinte" não se adequa mas, sim o de ser uma expressão de muito bom gosto, muito alinhamento e excelente acabamento dentro do seu estilo e identidade.
Na minha opinião e de uma forma ampla, ser elegante é "Ser" sem exagero, "Ser" sem querer parecer outra coisa, "Ser" com orgulho. O que requer de muita verdade, muito autoconhecimento e conhecimento, até de muita análise quando se trata de marcas e produtos.
Então chegamos ao que interessa: é possível usar cores e ser elegante ao mesmo tempo? Claro que sim! E podemos encarar isso de duas formas dependendo da visão de "elegância" que seja considerada.
Dado que a cor é uma construção cultural e no sentido mais habitual do que é considerado elegante no dias de hoje (como quando pensamos em sofisticação, requinte e refinamento) o colorido com elegância implicaria em usar na sua maioria cores apagadas que podem ser mais claras ou mais escuras dependendo da mensagem que deseja se passar. E também combinações com poucas cores e baixos contrastes, sendo as combinações monocromáticas a última expressão disto mas não a única combinação possível.
Ou seja: não somente de cores neutras e preto com metálicos vivem as paletas coloridas e elegantes.
Mas, se consideramos uma visão mais ampla de elegância eu diria que o colorido elegante tem a ver ainda com cores preferentemente apagadas mas podem ser paletas ricas em cores com curva, ou seja cores com subtons expressivos, e também contrastes sutis a médios que encontram sua raiz na riqueza de materiais diversos.
Em uma visão mais ampla de elegância é impossível separar o colorido dos outros elementos de design como linhas, formas, materiais, texturas e padrões. Porque de novo, estes outros elementos de design também são construções culturais portanto temos uma ideia preconcebida do que são linhas, formas, materiais, texturas e padrões "elegantes".
Como último ponto a considerar é preciso sempre lembrar da importância do "contexto" quando se trata de cores. As cores somente são entendidas em um contexto, ou seja se o contexto muda o significado das cores e das combinações de cores também irá mudar. Desta forma o que é elegante em um contexto pode não ser tal em outro contexto. Inclusive digo mais, usar cores "fora de contexto" pode ser uma das tantas formas interessantes de trazer um espírito de elegância e refinamento pela nova leitura proposta.
Trabalhar com cor não é algo simplista, ligado a fórmulas, receitas e absolutos do tipo "estas cores são elegantes" e "estas outras não são". Eu sugiro fortemente que você desconfie desse tipo de afirmações porque elas são muito vagas e imprecisas.
Quando se trata de comunicar uma mensagem com cores é preciso escolher muito bem as cores (se puras ou com curva), calibrar as tonalidades com intenção (se mais vibrantes ou mais apagadas, se mais claras ou mais escuras), levar em consideração o efeito final do conjunto das cores na paleta e não cada uma em forma individual (algo básico e muitas vezes negligenciado) e isso junto com todos os outros elementos de design (linhas, formas, materiais, padrões e texturas) e ainda dentro de um determinado contexto. Ufa, são tantos elementos a considerar que é impossível generalizar.
Para que você não fique com a sensação de que é uma missão impossível te convido a ler o post da semana passada no qual explico como criar uma paleta de cores olhando um a um para os 5 elementos que formam uma paleta de cores. Entender esses 5 elementos vai facilitar a visão de tudo que você deve levar em consideração ao criar uma paleta de cores que pode muito bem ser colorida e elegante ao mesmo tempo.
Espero te ver novamente aqui na próxima semana para continuar ampliando o seu olhar do mundo colorido e destravando sua intuição colorida.
Abraço colorido!
Felicitas