Desde muito antes de me formar designer de interiores eu tinha uma ideia muito clara de que "há cores que não combinam, que combinam". Na época me parecia divertido abrir o armário e vestir roupas em cores que aparentemente não combinariam mas, depois de experimentar e vestir... uau! combinavam. Hoje mais do que divertido, me parece necessário.
Até que fui estudar design de interiores nunca antes tinha estudado formalmente sobre cores. Mas, claro... tinha usado cores toda a minha vida, tal como todas as pessoas que nascem neste mundo. Talvez o mais particular na minha história de cor é ter acompanhado minha mãe na criação de inúmeros arranjos florais para ser apresentados em exposições de flores.
Vale dizer que ela recebia primeiros prêmios na grande maioria das vezes. Com o tempo se tornou uma referência no mundo das flores e se formou juiz internacional de arranjos florais. Eu tinha 11 ou 12 anos quando isso começou e fui sua companheira até que fiz 18 anos e fui morar em Buenos Aires.
Em todos esses anos nunca vi minha mãe usar um círculo cromático. Nunca.
A sequência dela era assim: primeiro analisava o tema da exposição, depois pesquisava sobre o tema e chegado um momento dizia "Já sei o que vou fazer, está todo na minha cabeça". Então partia para o centro da cidade e comprava um tecido para forrar a base de compensado na qual o arranjo seria apresentado. Essa cor de fundo era peça chave para contar a história, criar o contexto ideal e além disso para dar o contraste desejado às flores.
Depois ia na floricultura e escolhia as flores. Comprava algumas de amostra e ia em casa e montava todo o arranjo. Tal como ela tinha idealizado na cabeça dela. Ás vezes mudava a cor de fundo, mudava o suporte das flores, às vezes até mudava as flores. Ela testava suas ideias e se precisava voltava atrás, se não seguia em frente com suas ideias originais bem firmes.
Apresentar um arranjo de flores frescas em uma exposição tem uma complicação considerável. O arranjo tem que ser montado no dia da abertura da exposição, no local da exposição com flores... frescas!
Ou seja, depois de "idealizar" e "testar" tudo ela guardava suas ideias de novo na mente. Somente no dia anterior da exposição, algumas vezes no mesmo dia às 5 da manhã, ia na floricultura a comprar as flores definitivas. E ai a surpresa: por ser frescas... às vezes não eram exatamente da mesma cor, ou não estavam no tamanho que ela queria... era uma surpresa!
Nada disso abalava a minha mãe que com criatividade e muita autoconfiança ganhava muito primeiros prêmios, algumas vezes segundos prêmios e de vez em quando menções honrosas.
Se você chegou até aqui é porque se encantou com esta história e estará se perguntando: o que isso tem a ver com descombinar as cores. Tudo, deixa te explicar. A história da minha mãe fala de intuição sim, mas também de experimentar e testar, de ver e avaliar o efeito final das combinações pensadas. E lembra o que já contei: nunca na minha vida vi que ela usasse um círculo cromático.
Minha mãe sempre começava estudando o tema da exposição e pesquisando. Ou seja, se conectava com a história que ela queria contar, com a mensagem que ela queria passar. As cores vinham depois. E deixa te dizer que essa é a melhor forma de criar um combinação de cores: pensando primeiro o que você deseja comunicar.
Jamais, e tenho muita certeza em te dizer isto, jamais use um círculo cromático sem antes se conectar com o que você deseja comunicar. Ao pensar na sua mensagem você coloca sua intuição a funcionar e mais, sua criatividade a funcionar.
Aí é onde seu repertório colorido entra em ação. Sim, isso sim, é preciso ter um repertório colorido. Talvez essa pareça uma má notícia. Mas, não é. Porque a boa notícia é que repertório colorido você cria pelo simples fato de viver o presente.
São os passeios no parque, as caminhadas nas férias, os filmes assistidos, as vitrines de lojas curtidas, os pins salvos no Pinterest, os posts salvos no Instagram. Tudo cria repertório colorido se você presta atenção ao seu redor.
O nosso cérebro é uma máquina fascinante que aprende de tudo que vê. Pode parecer que nada fica, mas para falar verdade está tudo aí esperando para sair á luz em uma combinação de calça e blusa, de sofá com tapete, de prato com jogo americano, de vestido com laço.
Acredita.
E abre os olhos para o mundo colorida na tua volta.
E por que o convite a "descombinar suas cores"? Porque acredito que faz um bem imenso tirar a pressão de ter que combinar, combinar, combinar, combinar... e harmonia para cá, harmonia para lá... o que precisamos é escolher cores que para você ficam bem juntas, cores que te agradam, cores que te fazem feliz, cores que te trazem boas lembranças, cores que te divertem, cores que te fazem sonhar. Está na hora de descombinar suas cores. Acredita. Menos círculo cromático e mais liberdade no colorir.
Gracias querida mamá por enseñarme tanto sobre colores sin siquiera saber que lo estabas haciendo.
*** A foto neste blog é do jardim de rosas da minha mãe na Argentina, a segunda grande influência na minha história de cor. Infelizmente não tenho fotos dos arranjos da minha mãe. Épocas de fotos em papel que devem estar guardadas em alguma caixa na casa da minha mãe.
Nos vemos daqui 7 dias.
Abraço colorido.
Felicitas