Você sabe que as cores são uma ferramenta fora de série para influenciar as emoções e para comunicar mensagens mais ou menos complexas. O que talvez ainda não saiba é onde estão as raízes de semelhantes conquistas coloridas. Ou ainda pior, talvez não saiba que entender os fundamentos das cores e como elas realmente funcionam nas bases é o que separa os profissionais que usam cor em forma mecânica dos profissionais que nadam em um mar amplo de criatividade que nunca acaba.
Para começar pelo começo, é preciso botar o foco nas cores primárias.
Lá na escola aprendemos que vermelho, amarelo e azul são as 3 cores primárias. Lembra?
Fotos: @acuarelas.colibri @nasuperficie_
Se você esqueceu ou desconfia disso desde sua maturidade adulta, o melhor convite é que experimente misturar tinta guache ou massinha colorida nessas três cores, observe e tome nota dos resultados. Mas, se isso é muito complicado então continua lendo que neste post você encontra o que precisa para começar com pé direito no mundo das cores.
Era uma vez um cientista que experimentava com luzes e prismas e seus experimentos levaram ao nascimento da teoria pela qual vermelho, amarelo e azul são as cores primárias a partir das quais todas as outras cores são formadas. Esse cientista era nada menos que Isaac Newton, lá pelos anos de 1660, e suas descobertas são válidas para todo estudante de cor até o dias atuais.
Entender algo tão simples quanto isso é transformador. Vou repetir para que não fiquem dúvidas: todas as tonalidades que conhecemos são de alguma forma derivadas das cores primárias.
Para terminar de compreender isso vamos dar um salto quântico no tempo e chegar até a escola Bauhaus, uns 100 anos atrás. Nas aulas do curso preliminar da Bauhaus o artista, pintor e professor Johannes Itten fez tanto ênfase em ensinar aos seus alunos como as cores secundárias se formam misturando as cores primárias, e depois como as cores intermediárias se formam misturando cada cor primária com suas secundárias vizinhas que a roda de cores de Itten continua sendo mega famosa um século depois.
Se você já viu em algum momento um círculo cromático tal como conhecemos hoje com 12 cores, pode agradecer a Itten pela sua insistência a ensinar seus alunos usando a "roda de cores de Itten"
E mais, foi ele a primeira pessoa em chamar as cores de "frias" e "quentes". Imagina todas as possibilidades que se abrem quando dominamos essa ideia de temperatura de cor. Por via de regra o vermelho e o amarelo são quentes, enquanto o azul é frio. Ou seja, das 3 cores primárias, 2 são quentes e 1 é fria. Você já pensou nisso?
Todos os artistas da Bauhaus usaram muito (muito mesmo!) as cores primárias.
Kandinsky além de usá-las nas suas obras abstratas e geométricas, foi adiante nos estudos sobre os significados emocionais das cores ligados às formas. Depois de testar suas ideias com seus alunos acabou confirmando o que ele pensava sobre as cores primárias:
Amarelo é uma cor psicológica aguda e portanto se corresponde com a forma pontiaguda do triângulo.
Azul é uma cor mais profunda, que recua e portanto se corresponde com a redondeza repousante do círculo.
Vermelho é uma cor forte e assertiva e portante se corresponde com a tensão interna do quadrado.
No seu livro "The Spiritual in Art" de 1910, anterior à Bauhaus, ele já comparte com o leitor suas percepções sobre as cores deixando claro sua profunda compreensão do emocional das cores. Ele diz do verde (não uma cor primária mas cor secundária, resultado da mistura de azul com amarelo): "Poderia comparar completamente o verde com os tons médios e calmos do violino".
Eu gosto muito e mais, considero transformador, pensar nas cores primárias como o começo todo, o ponto de partida para qualquer combinação de cores se pensamos que todas as cores partem dessas três.
Estudar as cores primárias e seus simbolismos mais universais é muito importante para entender o que todas as cores comunicam.
Quando vemos uma tonalidade que tem algo de vermelho, será que ela carrega parte da energia do vermelho?
E se vemos uma tonalidade que tem algo de azul, será que carrega parte da calma do azul?
Quando vemos uma tonalidade que tem algo de amarelo, será que carrega parte da alegria do amarelo?
As cores primárias oferecem milhões de possibilidades de aprendizados para os profissionais das cores. Não por nada são as cores primárias, as primeiras. É preciso começar por elas.
Nos vemos na próxima semana.
Abraço colorido!
Felicitas