Todo mundo pode combinar cores. Todo mundo pode criar combinações de cores únicas. Eu sei que algumas pessoas parece que nascem com um talento natural para fazer isso, e outros, como eu e você, temos a oportunidade de aprender como escolher as cores certas toda vez que sentimos que a nossa atividade vai se beneficiar com isso. E deixa te contar que, pela minha experiência, saber combinar cores sem errar é uma habilidade que traz muito valor.
Em estes anos todos em que venho aprimorando minha habilidade de combinar cores e ao mesmo tempo tenho a oportunidade de trocar com tantos outros profissionais nas minhas aulas e workshops, sei claramente o que precisa para saber combinar cores. Deixa te contar.
A versão resumida é que precisa de 5 coisas: conhecimento técnico, intuição, treino e prática, boa escuta e inspiração. Só por aí você já tem uma boa visão de tudo que compreende combinar cores, e sim não é somente bom gosto. Aliás, bom gosto nem caiu na lista. Será?
Agora vou abrir esses 5 itens detalhadamente para te ajudar a ter uma visão completa de tudo que precisa.
1. Conhecer a simbologia das cores. Entender sobre Psicologia das Cores, ou seja, os simbolismos ligados a cada cor é como aprender o vocabulário necessário para falar. Se você já passou pela experiência de aprender a falar alguma língua estrangeira, digamos inglês, francês ou espanhol, você sabe que uma coisa é saber como construir frases e ideias em outra língua e outra coisa diferente é ter riqueza de vocabulário para falar.
Muitas vezes acontece que você até sabe falar mas te faltam as palavras, ou seja, falta vocabulário. Nesse caso você se vira para se fazer entender mas fica limitada a conversas mais superficiais, sem poder se aprofundar e a comunicação fica truncada. Querer usar cores sem dominar a simbologia das cores é exatamente isso, sua comunicação com cores pode ficar superficial porque te faltam recursos mesmo para manter uma conversa colorida fluida.
2. Reaprender a ver cores corretamente. Para entender isto é preciso entender como funciona o nosso cérebro. É ele que processa os estímulos coloridos que recebemos e os "converte" em cor. Como o nosso cérebro além de interpretar cores tem que fazer outro trilhão de atividades em simultâneo ele simplifica tudo o que pode simplificar.
Dessa forma, se você deseja transformar sua forma de usar cores é preciso reaprender a ver cores, ou seja, evitar que o cérebro simplifique as cores para você e cada vez que olha uma cor estar disposta a desmembrar a cor nas suas três dimensões: matiz, luminosidade e saturação. Somente assim o seu olhar estará transformado e você começará a ver mais riqueza de tonalidades como nunca antes viu.
3. Alimentar seu repertório colorido (contextos, estilos). É impossível usar bem aquilo que desconhecemos. Sabe quando vemos programas de cozinha onde chefs viajam e visitam mercados a céu aberto para entrar em contato com ingredientes locais? Pois é, não importa quão famoso e renomado seja o chef ele não pode cozinhar com o que não conhece. Ele precisa ver, tocar, cheirar e experimentar cada um dos novos ingredientes.
Com cores é exatamente igual você precisa ver muita cor e além disso ver as mesmas cores em diferentes contextos e estilos para ganhar repertório colorido. É preciso ter um olho interessado pela riqueza de tonalidades que há no mundo na sua volta. São as cores da sua casa, das suas roupas, do caminho até o trabalho, da praça onde leva seu cachorrinho, da feira e do mercado, dos filmes e seriados do final de semana, do museu que visitou nas suas férias. Não é exagerado dizer que 100% de tudo que você vê tem cor portanto as possibilidades de enriquecer seu repertório colorido são infinitas.
4. Conhecer o círculo cromático de A a Z (tirar o melhor proveito). O círculo cromático é a melhor ferramenta para entender a teoria da cor básica. Portanto, conhecer ele de cabo a rabo é mais do que uma necessidade, é uma obrigação. Mais porque sou uma convicta de que o melhor que você pode fazer quando começa a aprimorar seu olhar para as cores é guardar o círculo cromático dentro de uma gaveta e começar a combinar cores mais livremente.
5. Saber calibrar tonalidades. Eu chamo calibrar tonalidades ao ato de mexer na luminosidade, na saturação e na temperatura de uma cor até chegar na tonalidade certa. Seguindo com as analogias de comida, é como saber temperar um prato, ou seja, algo que requer de prática e treino. Os passos anteriores de reaprender a ver cores corretamente e enriquecer seu repertório colorido são necessários para mexer com tonalidades. Caso contrário, vai ficar mais difícil mesmo.
Dependendo de como você usa cor mexer nas tonalidades pode ser mais ou menos simples. Por exemplo: se você mexe com tintas, é muito fácil (seja que você mistura tintas para pintar ou como eu, escolhe cores de um catálogo que tem muitas opções entre as quais escolher). Se você mexe com materiais coloridos como fios, lãs, papéis, tecidos... pode ser mais difícil porque as tonalidades ficam restritas às disponíveis dentro do catálogo do fabricante. Nesses casos, talvez precise pesquisar diferentes fabricantes, diferentes fornecedores para ampliar o leque de opções.
6. Autoconhecimento sobre sua História de Cor. Este é o primeiro ponto que forma parte do que eu chamo "Intuição". Ao meu ver é sempre necessário fazer uma retrospectiva para entender como você se relaciona com as cores. E pode começar pelo básico mesmo que é responder quais cores ama e quais não curte tanto... ah... mas foca nos "por quês". Por que ama essa cor? Ela lembra algo? Como te faz senti? Por que disgosta dessa outra cor? Ela lembra algo? Como te faz sentir? É interessante conhecer a fundo suas preferências e gostos pessoais. Prefere cores claras ou escuras? Prefere cores vibrantes ou apagadas? Muita cor? Pouca cor?
Refletir isso trará muitos insights úteis se você faz um trabalho colorido autoral. E se você presta serviços coloridos, como eu que sou designer de interiores e escolho cores para outros, é importante reconhecer que esses "outros" também carregam histórias de cor que lhe são próprias.
7. Escutar seu coração. Este ponto pode parecer vago. Vou me esforçar para explicá-lo de tal forma que você ainda acredite em mim e não fique com a sensação de algo difuso porque - curiosamente - é um dos pontos mais importantes. Quando se trata de escolher cores e combinar cores você somente sabe que sua combinação está certa quando "sente" que está certa. Usar cores não é como a matemática em que 2 + 2 = 4 e ponto final. Usar e combinar cores é regido pela teoria da cor mas também é pessoal e as cores são sentidas.
Portanto, colocar seus sentidos e percepção ao serviço do que está criando é fundamental.
Nesse momento de sentir você coloca tudo em jogo: seu olhar treinado, seu repertório, o conhecimento profundo do briefing para o qual está trabalhando, o entendimento do contexto no qual a combinação se insere... tudo, tudo, tudo magicamente conflui e você "sente" que está certo. Assim de simples.
8. Treino e prática. Sempre acho curioso que quem quer ser uma maratonista está disposta a treinar todo dia até atingir a marca de 42km corridos sem se machucar na tentativa, quem quer ser pianista está disposta a treinar horas a fio sentada no piano até fazer certo, quem quer ser boa cozinheira está disposta a sujar e lavar panelas com a mesma receita até dar certo, quem quer falar uma língua estrangeira como nativa está disposta a fazer horas intermináveis de conversação ou mesmo viajar para outro país e ficar por lá 3 ou 6 meses treinando diariamente até aprender. Mas muitas vezes quem quer saber escolher e combinar cores muito bem fica com preguiça de fazer diariamente paletas físicas ou digitais por exemplo, um ótimo exercício. Em fim, eu acho que você já entendeu me ponto aqui, certo?
9. Boa escuta e empatia. Quanto mais estudo e entendo sobre cores mais percebo que não se trata de cores, mas de emoções, sensações e pessoas. Por isso não adianta somente focar no treino do olhar, também é preciso ser generoso com o outro. Isto é fundamental se você presta serviços coloridos, escolhendo e combinando cores para outros. Se você faz um trabalho autoral talvez se trate realmente mais de escutar você mesmo. Mas, certamente o mundo da cor não se restringe à cor porque ela não é um fim em si mesma.
A cor sempre é um meio para algo a mais, e normalmente esse algo a mais está relacionado com bem-estar. Pensa comigo por um minuto: acaso todas as escolhas e combinações de cores que você faz não tratam de uma forma ou outra de bem-estar? E isso tem a ver com pessoas, com suas emoções e suas sensações.
10. Inspiração. O último da lista é tal somente por conveniência na hora de escrever e fazer uma sequência que faça sentido porque em verdade a inspiração é como respirar, o tempo todo podemos ter um insight, uma visão colorida. Me parece muito poderoso trazer outros sentidos a jogo quando se trata de trazer inspiração. Como quando pensamos uma paleta pelo seu "sabor", ou escutamos uma música e criamos uma paleta a partir do "ritmo e dos acordes", ou mesmo pensamos uma paleta pela sua "textura". Há infinitas formas de buscar inspiração colorida e estas que tenho listado aqui são de momento as minhas preferidas.
Fiz esta lista completíssima para te mostrar que tudo que precisa para usar e combinar mais e melhor cores está ao alcance da tua mão. É totalmente possível você se dedicar e com tempo ficar muito boa no mundo das cores. Não é algo inalcançável e somente restrito a pessoas "tocadas com a varinha mágica". Não existe tal coisa. Existe conhecer, querer ver, entender diferentes contextos, ser bom ouvinte, escutar o coração, treinar, desejar cada dia ser melhor do que o dia anterior.
Se no teu caminho deseja da minha ajuda vou adorar andar junto na tua jornada.
Nos vemos daqui 7 dias.
Abraço colorido!
Felicitas